Depois
de anos no meio acadêmico, não há como não perceber que muitos ainda possuem dificuldade
na pronúncia de nomes científicos, mesmo entre os biólogos e outros
profissionais constantemente em contato com estes termos. Assim, decidi fazer
esse (não tão) breve resumo de como pronunciá-los.
Nomes
científicos são palavras em Latim Científico e sua pronúncia varia de acordo
com a língua oficial do local onde é usado, ou seja, sua pronúncia é adaptada a
um background da língua falada pelos
utilizadores dos termos. Assim, cada país possui sua forma própria de
pronúncia. Aqui vou apresentar a pronúncia de acordo com falantes de português:
Vogais:
A – como em casa. Pode ser pronunciado mais fechado
quando antecede uma consoante nasal, como em cama. Exemplos: Ara (gênero das araras), Anas
(gênero dos marrecos)
E – como em pedra
ou Pedro. Exemplos: Hedera
(gênero das heras), Aves (clado que inclui
as aves)
I – como em livro.
Exemplos: Helix (gênero do escargô),
Ilex (gênero da erva-mate), viridis (verde)
O – como em poço
ou posso. Exemplos: Homo
(gênero do homem), Volvox (gênero de alga verde)
U – como em cru.
Exemplos: Lupus (gênero do lobo), Cucumis (gênero do pepino e do melão)
Y – da mesma forma que I. Exemplos: Lynx (gênero do lince), Cyanocorax
(gênero da gralha azul)
AE – da mesma forma que E. Exemplos: Aegla (gênero de caranguejos de água doce), Poaceae (família das gramíneas).
OE – da mesma forma que E. Exemplos: Coelacanthus (gênero de celacantos extintos), Oecomys (gênero de roedores)
Consoantes:
B – como em boca.
Exemplos: Bryum (gênero de musgos), Bacillus (gênero de bactérias)
C – 1. antes de E, I, Y, AE, OE, como em cebola. Exemplos: Caeciliidae (família de
cobras-cegas), Cynodon (gênero de
gramíneas)
2. em outras
situações, como em cabelo. Exemplos:
Canis (gênero do cão), Oryctolagus (gênero do coelho)
D – como em dedo. Pode ser pronunciado africado, como
em dia, quando precede I ou Y.
Exemplos: Dracaena (gênero das
dracenas), Dicksonia (gênero do
xaxim).
F – como em faca.
Exemplos: Fagus (gênero da faia), Fragaria (gênero do morango)
G – 1. antes de E, I, Y, AE, OE, como em gelo. Exemplos: Geophagus (gênero de acarás), Lagerstroemia (gênero da extremosa).
2. em outras
situações, como em galo. Exemplos.: Gallus (gênero do galo), amygdalus (amêndoa)
H – mudo, como em hora.
Exemplos: Hovenia (gênero da
uva-do-japão), Bauhinia (gênero da pata-de-vaca)
J – como em janela.
Exemplos: japonicum (japonês), Juglans (gênero da nogueira)
K – como C em cabelo.
Exemplos: Akodon (gênero de
roedores), Kinetoplastida (grupo de
protistas)
L – como em lar.
Exemplos: Limax (gênero de lesmas),
Allophylus (gênero do chal-chal)
M – como em mar.
Exemplos: Animalia (animais), Mycobacterium (gênero de bactérias)
N – 1. antes de C, CH, K, KH, Q, G, GH, GU, X como no inglês
bank. Exemplos: Sphingidae (família de mariposas), Onchocerca (gênero de nematódeos)
2. em outras
situações, como em nada. Exemplos: Nematoda (filo de vermes), Lantana
(gênero de plantas ornamentais)
P – como em paz.
Exemplos: Primates (primatas), Apteryx (gênero da ave kiwi)
Q – como C em cabelo.
Exemplos: Qaisracetus (gênero de
cetáceo extinto)
R – 1. no início das sílabas ou quando duplo, como em carro. Exemplos: Rallus (gênero de saracuras), Conringia (gênero de planta da família Brassicaceae)
2 . em outros casos, como em caro. Exemplos: Iris (gênero da planta íris), Ursus
(urso)
S – 1. entre vogais, especialmente após a sílaba tônica,
como em asa. Exemplos: Rosa (rosa), asinus (asno)
2. em outros
casos, como em salada. Exemplos: Sus (porco), Stegosaurus (gênero de
dinossauros)
[A
pronúncia de S entre vogais quando a vogal seguinte é tônica varia de 1 a 2]
T – 1. antes de i+vogal não tônicos (exceto no início das
palavras ou após s, t, x), como S em salada.
Exemplos: adventitius (adventício),
Actias (gênero de mariposas)
2. outros casos
antes de i ou y, como em tipo.
Exemplos: Tyrannosaurus
(tiranossauro), Astia (gênero de aranhas-saltadoras)
3. em outros
casos, como em tela. Exemplos: Tenebrio (gênero de besouros), Octopus (polvo)
V – como em vela.
Exemplos: Vulpes (raposa), Arvicola (gênero de roedores)
W – como no inglês way
ou como V em vela. Exemplos: Welwitschia
(gênero de planta encontrada no deserto de Namib), Wolbachia (gênero de bactéria parasita de artrópodes e nematódeos)
X – como em axial.
No início de palavras ou em casos em que a origem etimológica da palavra
justifique, pode-se pronunciar como em xícara.
Exemplos: Xerapoa (gênero de
planárias terrestres), Oxybelis
(gênero de cobras arborícolas)
Y – como no inglês yolk.
Exemplos: Yarala (gênero de
marsupiais fósseis), Ayenia (gênero
de plantas da família Malvaceae)
Z – como em zebra.
Exemplos: zebra (zebra), Metazoa (metazoários)
Dígrafos:
CC (antes de I, E, AE, OE, Y) – como X em axial, ou com S em salada. Exemplos: Coccinella
(gênero de joaninhas), Occidozyga
(gênero de rãs)
CH – sempre como C em cabelo.
Exemplos: Chiroptera (ordem dos
morcegos), Carcharodon (gênero do
tubarão-branco).
GH – sempre como G em galo.
Exemplos: Ghelna (gênero de
aranhas-saltadoras), Ghatophryne
(gênero de sapos)
GU (+vogal) – 1. antes de A e O, como em água. Exemplos: Guarianthe (gênero de orquídeas), Aguarunichthys (gênero de bagres).
2. antes de E, I, AE, OE, Y,
como em águia. Exemplos: Guimarotodon (gênero de mamífero
primitivo fóssil), Guibemantis
(gênero de pererecas)
PH – como F em faca.
Exemplos: Phoca (foca), Bryophyta (divisão dos fungos)
QU (+vogal) – 1. antes de A, O e U, como em quadro. Exemplos: aquaticus (aquático), Equus
(gênero do cavalo)
2. antes de E, I, AE, OE, Y, como em queijo ou como em equino.
Exemplos: Quercus (gênero do
carvalho), Aquila (águia)
RH – como R em carro.
Exemplos: Rhea (gênero da ema), Arrhenia (gênero de cogumelos)
SC (antes de E, I, AE, OE, Y) – como C em cebola. Exemplos: Sciurus (esquilo), Oniscidea
(subordem dos tatuzinhos-de-jardim).
SH – como X em xícara.
Exemplos: Shigella (gênero de bactérias),
Leishmania (gênero de protozoários)
TH – como T em tela
ou tipo (antes de I), ou como TH no
inglês think. Exemplos: Theristicus (gênero da curicaca), Arthropoda (artrópodes)
XC (antes de E, I, AE, OE, Y) – como X em axial. Exemplos: excelsus (elevado), Excoecaria
(gênero de euforbiáceas)
ZH – como Z em zebra,
ou como J em janela. Exemplos: Zhadia (gênero de anfípodes), Azhdarchidae (família de pterossauros)
Tonicidade:
1. Palavras com duas sílabas são SEMPRE paroxítonas.
Exemplos: Rosa, zebra, Ursus, Canis, Ara, Vitis, onca, leo, Volvox
2. Palavras com três ou mais sílabas podem ser paroxítonas
ou proparoxítonas.
2.1
Paroxítonas:
a. quando existem duas (ou mais)
consoantes entre a penúltima e a última vogal da palavra. Exemplos: Shigella, caballus, excelsus, Onchocerca, Coelacanthus, Bacillus,
brasiliensis, Philodendrum.
b.
quando a penúltima vogal for longa. Isso inclui ditongos (ai, oi, eu, ou...),
os dígrafos ae e oe e vogais simples longas. Estas
últimas não são diferenciadas de vogais curtas na escrita e a melhor forma de
identificá-las é conhecendo a palavra. Exemplos: Rhabdocoela, Dionaea, lactuca, Geoplana, Odonata. Dica:
algumas terminações, como –anus/a/um, –aris, –alis, –osus/a/um e –atus/a/um
indicam sempre paroxítonas (ex.: incanum,
familiaris, Ortalis, Lophophorata, formosus).
2.2
Proparoxítonas: quando existe apenas uma consoante entre a penúltima e a última
vogal e a penúltima vogal é curta. Como dito acima, a escrita latina não
diferencia vogais longas de curtas, mas na dúvida, opte por pronunciar a
palavra como proparoxítona que as chances de estar certo são maiores. Exemplos:
Hymenoptera, asinus, viridis, Asteraceae, sylvaticus, Phoneutria, domesticus. Dica: as terminações
–icus/a/um, –ius/a/um e –eus/a/um quase sempre indicam proparoxítonas (ex.: aquaticus, Eryngium, erinaceus, Pomacea). Caso a penúltima vogal seja um I
e haja uma palavra descendente no Português onde essa vogal desapareceu, então
ele era curto e a palavra é proparoxítona (ex.: viridis > verde, asinus > asno).
Abaixo, uma lista de nomes científicos com a vogal tônica em destaque.
Homo sapiens
Felis sylvestris
Passer domesticus
Araucaria angustifolia
Escherichia coli
Agaricus campestris
Bipalium adventitium
Lactuca sativa
Elephas maximus
Coccinella septempunctata
Cyanocorax caeruleus
Albertosaurus sarcophagus
Phoneutria nigriventer
Saccharomyces cervisiae
Balaenoptera musculus
Mangifera indica
Polypodium subauriculatum
Welwitschia mirabilis
Larus
dominicanus
Compsocerus
violaceus
Amanita
muscaria
Geophagus
brasiliensis
Caenorhabditis
elegans
Drosophila
melanogaster
Pseudomonas
aeruginosa
Amaranthus
retroflexus
Piseinotecus
gabinierei
Marchantiophyta
Elateridae
Lophotrochozoa
Charadriiformes
Osteichthyes
Amphidiscophora
Chlamydomonadaceae
Asparagales
Chromalveolata
Basidiomycota
Tetrapodomorpha
Orycteropodidae
Espero que isso possa ajudar a melhor a pronúncia daqueles que possuem dificuldade com ela.
Muito bom, mas ia ser ainda melhor se vc fizesse um video, obrigado!
ResponderExcluirconcordo que ouvir seria incrivelmente incrível.
ExcluirSe tivesse um aúdio era show de bola!! hehe
ResponderExcluirMuito bom o blog! Porém, devemos ressaltar que a pronúncia de nomes científicos originados em homenagem a cientistas não seguem as regras de pronúncia latinizadas como, por exemplo, "Erlichia". A pronúncia correta não é "erlíquia", e sim, "erlíchia", pois o nome se refere a Paul Ehrlich, um bacteriologista alemão.
ResponderExcluirsensacional e muito bem escrito. vou incluir este link ao falar de taxonomia!!!
ResponderExcluirParabéns!!!
como seria Kentropyx?
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