sábado, 3 de dezembro de 2011

Espécies Exóticas: Elas são sempre um problema?

Nas últimas décadas, espécies não-nativas se tornaram vítimas de discriminação por parte de conservacionistas, donos de terras e políticos, bem como entre os cientistas, sendo acusadas de levar espécies nativas à extinção e “poluir” ambientes naturais. Contudo, as abordagens atuais de manejo precisam considerar que os sistemas naturais estão se alterando sem retorno graças às mudanças climáticas, a urbanização e a eutrofização, além de outras mudanças pelo uso da terra.
De fato muitas espécies introduzidas por humanos levaram a extinções e reduziram importantes serviços ecológicos. A malária aviana, introduzida no Havaí junto com aves não-nativas por Europeus, matou mais da metade das espécies nativas. O mexilhão-zebra Dreissena polymorpha, originário da Rússia e introduzido na América do Norte, e o mexilhão-dourado Limnoperna fortunei, originário do sul da Ásia e introduzido na América do Sul, se tornaram um grande problema por bloquearem canos de distribuição de água.
Mexilhão-zebra, espécie invasora na América do Norte

Mas a maioria das alegações sobre o papel destrutivo de espécies invasoras se baseiam em Wilcove et. al (1998), que alegam que espécies invasoras são a segunda maior ameaça a espécies ameaçadas após a perda de habitats, mas isso é pouco suportado por dados. Na verdade, em muitos casos a introdução de espécies aumentou a riqueza de espécies numa região.
Os efeitos de uma espécie invasora que não causa problemas agora pode se tornar uma preocupação no futuro, mas o mesmo se aplica a espécies nativas. O status de nativo não indica um efeito necessariamente positivo. O inseto que mais ameaça as árvores na América do Norte é uma espécie nativa de besouro, Dendroctonus ponderosae. Muitas espécies de árvores frutíferas introduzidas se tornaram importantes fontes de alimento para aves locais, atraindo-as e assim auxiliando inclusive a dispersão de espécies nativas.
A ideia não é defender as espécies invasoras em todos os casos, mas incitar uma abordagem mais analítica da situação. Em vez de cegamente condenar uma espécie apenas por não ser nativa, os planos de manejo precisam se basear em evidências empíricas e não em alegações infundadas.


Fonte principal: Davis et al., 2001. Don’t judge species on their origins. Nature, 474, 153-154.